fbpx

Carregando

Os filhos na visão sistêmica – Causa e Efeito

Nem todos que vivem uma experiência na Terra serão, necessariamente, pais ou mães, mas todos nós que aqui estamos somos filhos. É a partir desse papel que te convido a estudar como a terapia sistêmica enxerga os filhos, pois a forma como nos relacionamos com nossos pais é a forma que nos colocamos no mundo, refletindo – e até definindo – nosso movimento na vida.

Esse relacionamento inicia-se muito antes do nascimento: a percepção inconsciente de uma criança acontece desde o momento da concepção. “No útero materno, a criança é especialmente sensível aos sentimentos de aceitação ou rejeição de seus pais, se entende como pessoa completa e distinta deles e já vivencia suas primeiras experiências de alegria e dor em relação a eles e ao ambiente” (1).

Após o nascimento, a mãe é a nossa ligação com a vida. É por meio dela que chegamos ao nosso primeiro alimento, o leite, e que vivenciamos nosso primeiro sucesso: nos alimentar e nos manter vivos. Daí pra frente, esse movimento ativo de ir atrás daquilo que precisamos para sobreviver – em diferentes níveis e contextos – é o que determina o nosso sucesso na vida.

O pai, por sua vez, é amplitude e expansão. É nele em quem nos agarramos para ir além, quem nos permite ir para o mundo. Ele cuida, sem superproteger, e deixa que o erro surja para que a lição seja aprendida.

Ainda que a eles tenha sido reservado o papel tão importante de gerar a nossa vida, é preciso reconhecer que nossa mãe e nosso pai também são apenas uma mulher e um homem bem comuns. Nós, filhos, nos esquecemos disso com bastante facilidade e ultrapassamos os limites deles.

Até por volta dos 10 anos, nos comportamos bem como filhos, até porque seria impossível continuar sobrevivendo sem os cuidados de nossos pais. Quando chega a adolescência – e ela tem chegado cada vez mais cedo para as novas gerações – entramos em um movimento de buscar nossa individualidade. É como se isso fizesse com que nos perdêssemos pelo caminho e passamos a acreditar que não precisamos mais deles, que somos maiores que eles, que nossas soluções são melhores que a deles, julgando e criticando seus comportamentos e atitudes.

Neste momento, acontece a quebra do que Bert Hellinger, descobridor das Constelações Sistêmicas, chama de Lei de Hierarquia. “Quem entrou primeiro em um sistema tem autoridade sobre quem entrou depois”, diz a Lei (2). Esse deslocamento do nosso lugar dentro da família gera muito sofrimento: não aceitar nossa mãe ou nosso pai como eles são é não aceitar a nós mesmos, é brigar com a realidade e este é um caminho de dificuldades. Quem fica na acusação de seus pais sai pelo mundo negando seu afeto e desejando outros pais.

No entanto, somente com estes pais é que a nossa vida é possível. Os papéis foram definidos no vínculo gerado no momento da concepção e não há outros que possam ocupá-los. Para cada filho, há somente um pai e uma mãe. Se fosse outro pai ou outra mãe, seria também outro filho.

Quando Bert Hellinger diz que “a vida é algo que os pais receberam e passaram para seus filhos. (…) É a benção dentro do grande movimento da vida, que vem de bem longe e segue fluindo através dos pais” (3), ele quer dizer que a qualidade da nossa relação com nossos pais reflete a qualidade da nossa relação com a histórias de nossos antepassados, das gerações que vieram antes de nós, e que é onde reside a nossa maior força.

Mas como ter uma relação harmoniosa com nossos pais depois de tantos problemas e dificuldades? Eis um bom caminho: enxergar em nossos pais a sua própria humanidade, vê-los como as crianças que foram, olhar para além de nossas exigências e encontrá-los como pessoas comuns que fizeram o que foi possível com aquilo que tinham, com o mundo que se apresentava para eles.
Normalmente, esse entendimento só acontece quando já estamos adultos; o amadurecimento nos faz aceitar o que temos, em vez de ocupar nosso relacionamento com nossos pais com aquilo que desejaríamos ter.

O amadurecimento nos faz entender também que nossos pais não esperam nada de nós além de sermos seus filhos e que sejamos plenos e felizes para que a vida possa seguir adiante através de nós.

Pais se realizam ao ver seus filhos realizados e o nosso agradecimento aos nossos pais passa pela nossa vida. Ao agarrar a vida que eles nos deram e torná-la boa e próspera, deixamos claro o quanto respeitamos aquilo que eles nos deram, e por consequência, o quanto os valorizamos por nos ter passado o dom da vida.

Denisval Pereira
Instituto Vidhas

Denisval é formado em psicologia clínica, com mestrado em psicologia da saúde, hipnoterapeuta e logoterapeuta. Facilitador, palestrante e ministrante de workshops e cursos de formação em Constelação Familiar pelo Instituto Vidhas, onde é também Diretor.

Referências Bibliográficas:

  1. As Chaves do Inconsciente, Renate Jost de Moraes.
  2. Ordens do Amor, Bert Hellinger.
  3. A fonte não precisa perguntar pelo caminho, Bert Hellinger