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Constelação Familiar: vidas que mudam vidas

Soldado do Exército Alemão, prisioneiro de guerra na França, Seminarista, Padre, Professor, Missionário na África do Sul. Se parasse por aí, a história de vida de Anton “Suitbert” Hellinger – conhecido como Bert Hellinger – já seria de se admirar. No entanto, essa trajetória foi só uma – importante – fase que preparou Hellinger para a verdadeira revolução que estaria por causar nas relações humanas. Na década de 1970, abandonou o sacerdócio e dedicou-se a estudar Psicanálise, revelando o que hoje é mundialmente conhecido como Constelação Familiar.

Nascido na Alemanha em 1925, a formação rica e ecumênica que soma conhecimentos nas áreas de Teologia, Pedagogia, Psicanálise e diversas abordagens terapêuticas que vão da hipnoterapia à terapia do abraço, da análise transacional à programação neurolinguística, além de dinâmicas de grupo realizadas por sacerdotes da igreja anglicana e o contato com os costumes e rituais zulus, colaboraram para que Hellinger descobrisse o método sistêmico denominado Constelação Familiar, principal trabalho que rendeu a Hellinger indicações ao Prêmio Nobel Alternativo para Medicina Integrativa, em 2004, e ao Prêmio Nobel da Paz, em 2011.

O reconhecimento da comunidade científica veio oficializar o que milhares de pessoas no mundo inteiro já sabiam, viviam e sentiam: o método terapêutico é mesmo capaz de transformar as relações interpessoais, pois enxerga e entende o ser humano em toda a sua essência e integridade (física, mental, espiritual e sentimental).

Sem referências religiosas, místicas ou sobrenaturais, mas tendo como base a teoria dos Campos Morfogenéticos, do biólogo britânico Rupert Sheldrake, o método entende que não só a carga genética define e torna determinado ser humano único, mas também o campo de energia em que ele cresceu, formado e transferido pelas gerações de sua família.

A maneira como esse campo de energia interfere no comportamento do indivíduo, Hellinger dá o nome de “inconsciente familiar”, que todos nós possuímos e que age de forma diferente em cada membro da família.

Três leis básicas atuam simultaneamente nesse inconsciente familiar: da hierarquia (estabelecida pela ordem de chegada de cada indivíduo no grupo familiar), do pertencimento (estabelecido pelo vínculo) e do equilíbrio (estabelecido pelo dar e receber). De acordo com Hellinger, o amor que conhece e respeita essas necessidades traz efeitos benéficos e curativos, mas quando qualquer uma dessas leis não é cumprida, surgem compensações que atuam e refletem nas outras pessoas da família, mesmo que ainda não tenham nascido.

Lei da Hierarquia

Simples, básica e natural, essa lei é comandada pela precedência no tempo. “Quem entrou primeiro em um sistema tem autoridade sobre quem entrou depois”, diz Hellinger (1). O avô tem precedência sobre um neto, um pai tem precedência sobre o filho, o irmão mais velho tem precedência sobre o irmão mais novo. A ordem também se relaciona com a transmissão da vida num grupo, pois os pais podem prover a descendência mais rapidamente do que os filhos. Entre os filhos, o mais velho pode cuidar melhor dos irmãos mais novos.

Quando os filhos se tornam responsáveis pelos pais ou os pais agem como se fossem os filhos, existe uma quebra nessa lei.

Lei do Pertencimento

“Todo membro de uma família tem o mesmo direito de pertencer” (2), afirma Hellinger, ao descrever que o vínculo com nossa própria família é nosso desejo mais profundo e que, dentro de um sistema familiar, todos devem ser protegidos da mesma forma.

Quando esse direito é negado a algum membro, seja porque houve um divórcio mal-resolvido e o homem casou-se novamente, ou algum parente morreu, seja porque o filho tem ciúmes dos seus pais com os outros irmãos ou crianças da família, a lei é desrespeitada e a energia dessa exclusão pode atuar causando um efeito colateral em todo o sistema familiar.

Lei do Equilíbrio
Onde houverem pessoas se relacionando, as trocas entre elas devem ser equilibradas. Hellinger diz que “o que dá e o que recebe conhecem a paz se o dar e o recebem forem equivalentes” (3).

As relações humanas tendem a buscar reciprocidade e compensação. Quando recebemos algo de alguém, ficamos devedores, e procuramos a oportunidade de também dar algo. Com a conta equilibrada, as pessoas estão livres para continuar a se relacionar ou não.

No entanto, quando há desequilíbrio nessas trocas – seja porque um tem muito e quer dar ou o outro não tem ou não sabe retribuir -, a lei foi quebrada e um dos lados se sente pressionado a se afastar ou sair do relacionamento.

Essa lei só encontra uma exceção na relação entre pais e filhos, na qual pais somente dão e filhos apenas recebem. A compensação acontecerá quando os filhos se tornarem pais, e então, darão aos filhos sem receber em troca ou quando contribuírem com seu trabalho e sua obra para o bem estar do todo, fazendo algo de bom para a sociedade.

Hora de Constelar
Constelar. Este é o verbo utilizado para definir o ato de entrar em contato com o inconsciente individual, coletivo e familiar para descobrir e tratar as fontes dos problemas e dificuldades.

A constelação familiar pode ser individual ou em grupo e neste último caso, não precisa ser feita necessariamente com a família da pessoa. Outras pessoas (também em tratamento que se voluntariam) representam os personagens envolvidos, que podem ser o pai, a mãe, o filho, o avô, profissões ou até mesmo fatores como dinheiro e doenças.

Graças à representação – que se assemelha a uma peça de teatro – energias e sentimentos são colocados em movimento, identificando quais leis foram quebradas e como podem ser novamente respeitadas, promovendo alívio de culpas, medos, angústias e cura emocional.

Os efeitos da constelação familiar têm auxiliado a melhorar as relações interpessoais em diferentes níveis, transformando ambientes familiares, de trabalho, educacionais e a sociedade como um todo.  

Denisval Pereira
Instituto Vidhas

Denisval é formado em psicologia clínica, com mestrado em psicologia da saúde, hipnoterapeuta e logoterapeuta. Facilitador, palestrante e ministrante de workshops e cursos de formação em Constelação Familiar pelo Instituto Vidhas, onde é também Diretor. Fez Treinamento e Aprofundamento em Constelações Familiares pelo IBHBC e na Escola Hellinger Sciencia em SP, Alemanha e México. É presidente do Instituto Milton H. Erickson de Campo Grande e região MS.

Referências Bibliográficas:

(1) Ordens do Amor, Bert Hellinger.
(2) A Cura, Bert Hellinger.
(3) A Simetria Oculta do Amor, Bert Hellinger.